Friday, March 31, 2006

"Dorme. Melhor assim. Melhor não ver os seus olhos, não sentir o seu respirar, melhor não ver tudo por quanto me apaixonei...
Quem sou eu para ti, por entre os escombros da tua vida poética? Inventaste tanta gente em ti, que te esqueceste de aceitar na tua vida quem não vinha de ti. O que sou eu para ti agora? Nada! Nada... vim aqui somente dar-te um beijo de despedida antes de partir de vez da tua vida, da nossa vida. Vinha e pensava no receio de ver-te, como se ver-te tornasse uma despedida impossível, como se ver-te reacendesse em mim tudo o que em ti me apaixonou. Melhor assim. Melhor estares a dormir. Lerás esta carta que aqui te deixo e tudo será mais fácil. Adeus. O teu génio é maior que o nosso amor. É grande demais o teu génio."
Gustavo Jesus

"Deus é um grande semáforo"

tenho dito...
e alguma relação entre isto e um polígono funicular ou é pura coincidência, ou é um dia surreal...

Thursday, March 30, 2006

My only love sprung from my only hate!
Too early seen unknown, and known too late!
Prodigious birth of love it is to me,
That I must love a loathed enemy.
Shakespeare

Wednesday, March 29, 2006

Onde é que está a poesia?

está
no imediato tempo respirável
em que um alívio remoto se move e agita
os espaços inertes do nosso compromisso

vem
dos lugares habitados por nós um dia
alheios à alucinação da nossa vida
e alheios à sua própria eternidade
Pedro Sousa

Tuesday, March 28, 2006

Ecos oedianos...

"Para ser grande, sê inteiro
Nada teu exagera ou exclui
Sê todo em cada coisa
Põe quanto és no mínimo que fazes
Assim,
Em cada lago,
A Lua toda brilha porque alta vive"
Ricardo Reis

Monday, March 27, 2006

Para começar a época...

Poema de Aniversário

"Procurei no dicionário,
Com paciência e cuidado,
O real significado
Da palavra aniversário.
Aquele livro pesado,
Mestre dos visionários,
"Pai dos burros" batizado,
Pareceu-me sectário,
Ao responder meu chamado.
Deveras decepcionado,
Joguei o meu dicionário
Na estante, empoeirado,
Para pregar, solitário,
O meu significado
Da palavra aniversário.
Diz assim, o verbete lendário,
Ontem, por mim criado:
"Aniversário: Espécie de relicário,
Muitíssimo bem guardado
Nas folhas do meu diário,
Dos versos que eu escrevi,
Com todo amor, e não li,
Durante o ano passado."
Carlos Eduardo Drummond

Sunday, March 26, 2006

"Olhámo-nos em silêncio. Acho que chorámos, mas não tenho a certeza. Se o fizemos, foi porque toda a água de que éramos feitos, se evaporou de nós, à passagem do último raio de Sol. E permaneceu assim por muito tempo, de corpo enraizado no mar e cabeça à flor da água, a boiar como plantas aquáticas. Tudo se havia desprendido de nós, como se a água em que haviamos mergulhado não fosse apenas água mas um filtro absorvente, com o poder de tudo reter que fosse supérfluo, como as palavras. Depois, vazios de tudo o que fôramos antes, nadámos em silêncio até à praia. Suavemente. Sem pressas. Sabíamos que, ao chegar, a praia nos receberia como sempre, mas nada seria como dantes. Nada"

Saturday, March 25, 2006

I miss you

"To see you when I wake up
Is a gift I didn’t think could be real.
To know that you feel the same as I do
Is a three-fold, utopian dream.
You do something to me that I can’t explain.
So would I be out of line if I said,
I miss you ?
I see your picture, I smell your skin on the empty pillow next to mine.
You have only been gone ten days, but already I’m wasting away.
I know I’ll see you again
Whether far or soon.
But I need you to know that I care
And I miss you."

Friday, March 24, 2006

Dói-me...

"Quisera eu hoje escrever,
escrever exactamente o que sinto
com todas as palavras
que desabafassem a minha dor.
Oh, não... eu não consigo.
Para isso teria que falar
muitas palavras obscenas...
Não valeria a pena!
Quem me leria?
Que ouvido me escutaria?
Que importância teria o meu desabafo?
Quem se importaria com a minha dor?
Esta dor que não criei sozinha,
(mas só eu a sinto)...
É só minha!
Não adormece,

não sossega,
não me esquece.
Não, não há revolta,
somente há a impotência,
o pranto a esvaziar a alma.
O coração, em suspenso,
surpreso a perguntar:
Porquê?"

Thursday, March 23, 2006

Volta...

"Fecho os olhos...
Circula uma brisa dentro da temperatura.
Flutua uma saudade domada.
Insinua-se uma liberdade do nada.
A dor do avesso é profunda paz...
Sente-se uma força muda que só por pouco não adormece e eu recolho-me a um sorriso que não chego sequer a esboçar.
Reconheça-se : certas coisas não voltam simplesmente porque nunca saíram de nós. E por mais que se as possam dizer ficam sempre por dizer. Não se somem, transformam-se apenas, e discretas, silenciosas, passo a passo, vão-se juntando à imperceptível reserva de inspiração que transportamos de arrasto na popa da alma.
Abro de novo o olhar..."

Wednesday, March 22, 2006

O rapaz do rio

"Ele ficou ali, sem se mover, mesmo à beira da catarata, com a água a correr pelas suas pernas tão rapidamente que ela pensou que o arrastaria consigo. Mas ele estava imóvel como uma rocha, olhando para a frente, para o seu destino distante. Em seguida, sem falar com ela e sem olhar para ela, mergulhou.
Ela deixou cair o queixo e observou; e, nesse momento, viu cristalizada a simetria perfeita do rapaz do rio ao deslocar-se no ar, uma criatura bela e graciosa, em parte peixe, em parte pássaro, em parte humano, em parte outra coisa: algo que ela não conseguia definir mas que o definia, uma parte que ele não partilhara com ela...
Pouco depois, tinha desaparecido."

Tuesday, March 21, 2006

Furto um pedaço de Azul ao mar e regresso a mim...

Monday, March 20, 2006

Confusion

You looked at me
And made me fall
How could I find sense in this all?
For, those who search
And do not find
They need to find someone who’s kind
But then again…
What shall I do?
Can I find some help with you?
I’m going mad
Won’t this have an end?
Can you please give me a hand?
I need your help
I want to find
The door that leaves this place behind.
I’m so confused
I twist and turn
So fast it almost makes me burn
The truth is near
“What is all this?”
The place I’m sure I will not miss
It’s clear now
I see a light
This isn’t as bad as at sight
I like it here
What was all that?!?
A crazy thing to make me snap
I’m having fun
I love this place
It’s full of joy, so full of grace!
Undo the beginning
Erase that part
I prefer this, it's filled with art!
A bunch of fun
Two bits of rage
This place that’s called
Teenager’s age...

Sunday, March 19, 2006

Certezas

"I'm sure about it
I'm definetely sure that
I do surely doubt it
I wish that I could say that
I was sure about it
But I'm definetely sure that I'm not sure"

Saturday, March 18, 2006

A ver o Mar...

A ver o mar eu estava
Na noite estrelada
A ver o mar sem fundo
Alí, no fim do mundo

A ver o mar eu estava
Na noite que passava
Buscando, mas em vão
Minh' alma e coração

A ver o mar eu estava
Naquela madrugada
Pensando calmamente
Embora tristemente

A ver o mar eu estava
Já perto da alvorada
A ver o mar bater
No fundo do meu ser...

Friday, March 17, 2006














"Quando o luar caiu e
tingiu de escuro os verdes da ilha
cheguei, mas tu já não eras.

Cheguei quando as sombras revelavam
os murmúrios do teu corpo
e não eras.
Cheguei para despojar de limites o teu nome.
Não eras.

As nuvens estão densas de ti
sustentam a tua ausência
recusam o ocaso do teu corpo
mas não és."

Vozes poéticas da lusofonia,Conceição Lima

Thursday, March 16, 2006

Azul

"Acabara-se o Verão.
Mas dali, da minha varanda sobre a praia, as estações há muito que me eram indiferentes. Com o oceano pela frente, existe somente o oceano usando mil e uma fantasias com que o céu o vai vestindo ao longo do ano. Sentia-o, naqueles instantes, colorir-se lentamente de frio. E outra vez lá estava eu, assistindo, balouçando no meu poleiro de pássaro desasado, voando e pousando a cada prescrutação daquele ângulo de mar tão só meu."















"O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade"

Fernando Pessoa